Em muitas das minhas aulas de artes visuais a sistematização foi realizada com livros, gravuras, filmes e visitas a museus, a fim de que os alunos pudessem fruir as obras de artistas de vários estilos e épocas.
Dessa forma, pude aliar a base teórica com o fazer artístico, como propõe a arte educadora Ana Mare Barbosa. É o que chamamos de "Contextualização histórica", para que se conheça o mundo e as pessoas da época em que a obra de arte foi realizada. Os alunos, assim, através de diversas estratégias sentem-se motivados a analisarem os trabalhos, fazerem a leitura das obras, para em seguida ser feita a releitura delas, ou, seja, interagir com a obra colocando no seu trabalho os conceitos observados durante a leitura.
Pesquisa
A pesquisa deve fazer parte de todo processo de aprendizagem seja do aluno ou do professor, pois ambos devem conhecer, apreciar e fazer arte.
Também dessa maneira eu procedi na aula sobre o mundo fantástico dos artistas, apresentando aos alunos os diversos momentos da arte, e as influências de um artista sobre outro. Durante a apresentação, os alunos vão fazendo a leitura das obras, sinalizando o que observam: temas, formas, cores, texturas, composição, ritmo etc.
As tendências pictóricas do século XX
Para os artistas do século XX a representação já não era um fim em si mesma, eles se interessavam era pela forma, pela composição, pela matéria ou pelo conteúdo psicológico. Por isso, faziam experiências para enriquecerem e inovarem a arte.
A Arte Fantástica
Henri Rousseau (1844-1910), foi pintor primitivo, ou seja, com visão simples, que pintava formas estilizadas e líricas. Como não tinha formação artística, pensava serem elas reais. Apesar disso, muitos artistas apreciaram esse seu estilo. Suas obras já apresentavam imagens fantásticas.
Giorgio De Chirico (1888-1978), italiano, pintava expressando-se contra a violência da Primeira Guerra Mundial. Ele via a realidade metafisicamente, por isso pintava a vida em contextos estranhos e em perspectivas não comuns misturando a cena contemporânea com a da Antiguidade, elementos reais com irreais e sombras inquietantes. Criava, desse modo, um novo mundo, estranho, silencioso, melancólico e perturbador. Mais tarde sua arte volta-se para o estilo acadêmico.
Carlo Carrà (1881-1966) também era artista italiano, que no início da Primeira Guerra Mundial procurava pintar influenciado pela pintura medieval de Giotto. Ele conheceu De Chirico e pintou cerca de vinte pinturas metafísicas. Anos depois pintou figuras baseadas no realismo de Masacio. Mais tarde, juntou-se aos futuristas.
A Arte Dadaísta foi um movimento artístico e literário internacional do espírito da época, 1916, em Zurique. Foi chamado de "antiarte". O dadá foi também uma reação europeia à Primeira Guerra Mundial que após tanto progresso passava a ser, segundo os artistas, uma civilização decadente. O nome "dadá", por causa da irracionalidade da guerra, foi retirado do dicionário ao acaso e significa "cavalinho de pau". Era contrário à arte tradicional, propondo conceitos irracionais, imaginários, absurdos e exagerados, com o objetivo de provocar, de chocar, de acabar com tudo e começar do zero. Desejavam, por isso, a espontaneidade, a invenção, a introdução do acaso nos trabalhos de arte. Entre os artistas estavam o francês Marcel Duchamp, o cubano Francis Picabia, o alemão Max Ernst e o americano Man Ray. Em 1922, ele enfraqueceu, mas possibilitou mudanças estéticas radicais, influenciou diversos artistas e prenunciou o Surrealismo.
O Surrealismo foram movimentos filosóficos que surgiram em reação aos acontecimentos destrutivos da Primeira Guerra Mundial. Ele iniciou em 1924 com manifesto do poeta André Breton (1896-1966).
"Só a palavra liberdade me exalta." André Breton
Breton uniu o irracionalismo do dadá ao subconsciente, conceito inspirado em Freud, pelo qual ele se interessou e levou outros artistas a conhecerem para usarem como inspiração para suas obras.
"Nas mãos de Breton, o Surrealismo foi sempre um esforço heróico para conter e definir as energias demoníacas libertadas do inconsciente pelo automatismo e outros processos 'paranóicos'. " Herbert Read
Também o filósofo Bérgson enfatizou que o pensamento consciente e racional era relativamente secundário em relação às riquezas escondidas da alma. Então, os surrealistas queriam buscar este mundo secreto criando uma arte fantástica, que se desenvolveu, influenciou e ainda influencia muitos artistas.
O Surrealismo se baseava em dois aspectos:
1o. - no automatismo, para que a liberdade criadora fosse total. Nessa pintura, os artistas procuravam excluir o controle da razão e libertar os impulsos do subconsciente.
2o. - no mundo onírico, nos sonhos, para que se pudesse fazer uma exploração artística de ordem afetiva.
"O Surrealismo é destrutivo, mas destrói apenas o que considera serem grilhões que limitam nossa visão." Salvador Dalí - 1929
Os artistas surrealistas eram inspirados pelo caráter poético, enigmático e pelas justaposições de objetos. Para criarem usaram vários métodos, até hipnose. Eles valorizavam as pinturas das crianças, dos doentes mentais e dos amadores, porque surgia do impulso criativo, sem convenções e regras. Mais tarde, eles procuraram criar uma super-realidade, unindo o consciente e o subconsciente, o real e o sonho.
"belo como o encontro fortuito de uma máquina de costura e de um guarda-chuva numa mesa de dissecação." poeta Lautréamont
Max Ernst (1891-1976), alemão, foi um artista que estudou filosofia. Apesar de não ter formação artística, ele inventou vários métodos, entre os quais a frottage __papel sobre uma superfície em relevo para se fazer um risco com grafite, cujo traço é usado para se criar uma imagem. Em 1922, em Paris, inspirado em De Chirico, ele, a partir do dadá, usou temas inspirados na sua infância, colocou objetos e cenários estranhos, mas num contexto mais moderno, criando, assim o Surrealismo.
Juan Miró (1893-1983) foi um dos grandes surrealistas, devido a sua arte ser bem espontânea, sem imagens tradicionais, com algumas formas reconhecidas do mundo real e outras não. Ele se inspirou em Antoni Gaudí e nas obras catalãs. Usou também símbolos com sentido preciso.
René Magritte (1898-1967), pintor belga, tinha obra do surrealismo realista, ou "surrealismo mágico". De início, ele imitou a vanguarda, depois foi influenciado por De Chirico.
"Sou um monstro de inteligência." Salvador Dalí
Pintou a realidade com realismo, criando, por isso, obras inquietantes, com imagens bizarras. Suas pinturas eram explícitas, porque era necessário que as visões oníricas fossem bem comunicadas ao expectador.
"fotos de sonhos pintadas a mão." Salvador Dalí
Nos primeiros trabalhos, ele usou as associações de imagens, pesadelos e símbolos. depois cenas alucinantes, como na sua obra abaixo. Ela é forte, é uma das grandes imagens arquetípicas do século XX. O tema é o tempo, a sua relatividade, elasticidade e destrutibilidade. O motivo principal são os relógios. Há uma inquietação psicológica em ralação a profundidade do espaço. No centro, Dalí pintou um rosto disforme, mole e elementos irreais misturados com imagens que conhecemos. Na pintura não existe a intenção de metáfora, mas sim uma relação com a Teoria da Gravidade, de Albert Einstein.
Ele pintou também algumas cabeças fantásticas, como vemos abaixo.
Construa vocè, também, um trabalho sem a preocupação em ser fiel à realidade, como fizeram esses artistas e alunos.
Fontes: BECKETT, Weddy . História da Pintura. Editora Ática
READ, Herbert.. História da Pintura Moderna . Círculo do Livro
UPJOHN, Everard M., WINGERT, Paul S., MAHLER, Jane Gaston. História Mundial da Arte
- Artes Primitivas e Arte Moderna - vol. 6. Bertrand Editora
Imagens do Google
Obs.: Os trabalhos dos alunos não são recentes.
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