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O Ensino da Arte

A Arte e o Ensino da Arte


"(...) senhores, não é possível estar dentro da civilização e fora da arte." Rui Barbosa


O desenho

É bom, também, se ter informações sobre o passado da linguagem do desenho, conhecer as mudanças de interesses dos temas, devido as transformações da sociedade, sua visão de mundo e como estas influenciam o estudo do desenho.


"Todos os grandes mestres renascentistas e pós-renascentistas insistiam na importância do desenho para a formação do pintor. E, independentemente de suas palavras, seus quadros e esculturas estão aí para comprovar essa importância." Ferreira Gullar


Séc. XVI,XVII e XVIII - O NÚ
A produção artística destes períodos tinha a ver com este tema, por isso era essencial o nú no ensino do desenho.

No Brasil o ensino era oferecido pelos religiosos com as regras renascentistas.

Veja em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Escultura_do_Renascimento_Italiana


Mas o nú ainda é um tema que alguns artistas empregam em seus trabalhos.

Vejam a seguir dois vídeos, do Youtube, sobre aula atual de desenho de modelo vivo com nú artístico.





Séc. XIX - A NATUREZA
O desenho era essencial neste século, para se fazer uma pintura ou uma escultura. Por isso ele era obrigatório no ensino da arte, assim como a observação da natureza.

No Brasil, surge o ensino do desenho, a Escola de Belas Artes e a Escola de Artífices, por vontade de D.João VI. Eram importantes as lições neoclássicas dos mestres franceses e europeus e a influência da Missão Francesa que orientava estas escolas, com o objetivo de implantar o ensino das artes no país da maneira como era feito na Europa.

"A arte acadêmca, que os impressionistas puseram a pique, fundava-se na tradição renascentista do desenho." Ferreira Gullar

No Brasil houve medidas educacionais para que o país se tornasse moderno, como era na Europa e nos Estados Unidos. Joaquim de Vasconcelos e Rui Barbosa, entre outros, divulga suas ideias para a Reforma do ensino primário baseadas nas ideias estrangeiras, mas adaptadas à cultura brasileira. Rui Barbosa defendia o ensino do desenho e da arte aplicada, que era feita no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, para o qual deveriam vir contratados professores da Áustria ou da Inglaterra, a fim de fundarem a Escola Nacional de Arte Aplicada.

"Que agente é esse, capaz de operar no mundo sem a perda de uma gota de sangue, essas transformações incalculáveis, prosperar ou empobrecer os Estados, vestir ou despir os povos o manto da opulência comercial? O desenho senhores, unicamente, esta modesta e amavel disciplina, pacificadora, comunicativa e afetuosa entre todas, o desenho professado às crianças e aos adultos até a universidade, como base obrigatória da educação de todas as camadas sociais (...). Bem, ide vendo, senhores não é possível estar dentro da civilização e fora da arte." Rui Barbosa

Joaquim de Vasconcelos e Rui Barbosa criticavam o ensino do desenho linear geométrico das escolas brasileiras, porque não inovava a ciência do desenho, e porque o ensino artístico era feito com soletração do a, b, c, uma forma tão absurda quanto no ensino da lingua. E, também, porque paralisava a vista, fomentava a preguiça, a inércia e a incapacidade da criança ao entregar-lhe logo um compasso e uma régua, diziam eles.

Veja em:

http://www.dezenovinte.net/ensino+artístico/cadesenhoobjv.htm

Sec. XX - A Arte Moderna
Houve reinvindicações no ensino da arte, a arte infantil foi valorizada e o interesse pelo desenho aumentou no ensino profissional por causa da necessidade de mão de obra especializada para a indústria. Houve, então, aula de desenho geométrico, decorativo, de repetição e alternância, de estudo da luz e da sombra, sobre tema, de observação da figura humana, de flores e objetos. Era usado nesta época o método livre e o auto-expressivo, sem as regras dos períodos anteriores.

1929 - A Escola Brasileira de Arte, criada nesta época, em São Paulo, foi a primeira escola pública de arte para que as crianças pudessem continuar estudando arte. A professora Sebastiana levou doze anos para criá-la, segundo pesquisa da arte-educadora Ana Mae Barbosa, sobre o ensino da arte na América Latina.

"Theodore Braga (...) lutava pelo ensino que aprimorasse o desenho nas classes trabalhadoras. Na época copiavam os catálogos, o que ele era contra. Theodore aceitava o geometrismo, mas baseado na flora e na fauna brasilelra. Ele quer o pensar, o traçar e o exercitar o desenho." Ana Mae Barbosa

1948 - Criação das Escolinhas de Arte do Brasil. A primeira foi no Rio de Janeiro, criada por Augusto Rodrigues. Começava a institucionalização do ensino da arte, apesar de já haverem algumas experiências do ensino modernista na arte que eram aulas de desenho de observação, desenho decorativo e desenho gráfico, conforme diz Ana Mae Barbosa, pesquisadora da Arte Educação, em suas palestras e livros.

1950 - Música, Canto Orfeônico e Trabalhos Manuais são inseridos no ensino.

1960 - Surge a Escola Nova, que foi iniciada na Europa e EUA. Trata-se de escolas experimentais, com ênfase na expressão, na espontaneidade do aluno, influencidadas por John Dewey, Victor Lowenfeld, Herbert Read e no Brasil também por Augusto Rodrigues, criador da Escolinha de Arte do Brasil do Rio de Janeiro, cujo princípio era a "Educação Através da Arte", com o objetivo de que as crianças, por si só criativas, fossem menos competitivas, mais cooperativas, e sabendo que não estavam lá para serem artistas.

"Na Inglaterra, os arte-ducadores modernistas tiveram tremendo apoio de críticos de arte e dos artistas. Na América Latina os arte-educadores modernistas, em geral, sofreram muito por parte dos artistas, dos críticos e dos historiadores conservadores." Ana Mae Barbosa

A seguir um vídeo, do Youtube, sobre o desenho de Picasso



"Picasso nunca subestimou o papel do desenho na pintura. Tornou-se pelo contrário, o grande desenhista de nossa época." Ferreira Gullar

1970 - É implantada a educação artística nas escolas. É o período da Pedagogia Tecnicista, que ainda existe em algumas delas. O objetivo é saber construir, usar diferentes materiais e a expressão de espontaneidade sem muito conhecimento da arte.

1980 - O entendimento sobre a arte tornou-se outro. Surgiram várias linguagens, vários estilos e acabou,então, a preocupação com a pureza no ensino da arte, porém a prática não levou em conta a necessidade de ser significativa para o aluno. Repetiam-se conceitos e propostas antigas. A desconstrução passou a ser o método de se ensinar arte, sem a preocupação com o resultado ideológico.

Houve movimento de arte-educadores, luta pela obrigatoriedade de arte nas escolas e a ideia de uma Nova Lei de Diretrizes e Bases para novas experiências pedagógicas, pós-graduação na disciplina, novos conceitos, arte como sistema de conhecimento do mundo, do fazer artístico, apreciação de obras de arte, história da arte, interdisciplinaridade, a educação em arte servindo para transformar a sociedade. Não há, neste período, a importância no saber espontâneo, mas sim no que o aluno traz de fora da escola. O professor é um mediador levando-o aos conteúdos culturais universais e permanentemente realizados.

"Para desconstruir é preciso ter construído."

"Ser original é ser um mesmo, partir de um mesmo, criar sem copiar nem imitar nada nem ninguém."

1990 - O desenho com o lado direito do cérebro era praticado em escolas americanas. O objetivo deste método é descobrir os impulsos criativos e individuais dos alunos e muitos artistas o experimentaram. No entanto não houve muita mudança no ensino da arte no curso superior.

"Se fosse possível criar pór meio de regras, Ticiano e Veronese seriam comuns e vulgares."

No Brasil, a arte-educadora Ana Mae Barbosa procura levar a arte e a estética à população através da educação de qualidade, na qual a arte é fundamental para uma educação transformadora. Na sua teoria, Metodologia Triangular, há o interesse do fazer artístico, a análise de obras artísticas e a história da arte, ou seja, teoria e prática de educação artística de acordo com as condições e necessidades dos alunos a fim de dominarem o conhecimento básico da arte, sendo preciso, então, professores que saibam arte e saibam ser professores de arte.

Séc. XXI - ARTE PÓS-MODERNA
Agora, no ensino do desenho, a proposta é que esta linguagem revele pensamentos e as coisas vivenciadas, possibilitando assim a criação de outras linguagens, a partir da exploração de várias.

"Na passagem do modernismo para opós-modernismo __eu sou testemunha, porque sofri horrores__artistas modernistas considerados de vanguarda modernista rejeitavam a imagem na sala de aula para crianças e adolescentes. O modernismo (...) evitava qualquer contato com arte ou então inventava-se uma arte escolar, uma arte para fazer na escola, sem correspondência no mundo da arte." Ana Mae Barbosa

2000/2003 - Foram feitas nesta época, novas experiências na FAP, com práticas signficativas propostas por Lygia Clark e Hélio Oiticica, com trabalhos coletivos e experimentais, através dos sentidos e do corpo, para ampliar a percepção. Depois os resultados obtidos eram desenhados pelos alunos com o objetivo de pensar a própria prática. Fizeram também um blog com a produção, comentário e reflexão de cada um sobre as suas experiências sensoriais.


"Todas as percepções estimulam processos interiores no ser humano, vivificam ou perturbam parcialmente órgãos específicos e influenciam o nosso estado geral." Peter Kunz


A professora Rosa Iavelberg, uma das autoras dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) na área de arte, diz que há falta de prática de criação nas escolas, em diferentes linguagens e suas especificidades. Há prática em relação ao meio ambiente, à saúde, a datas comemorativas e à aprendizagem de outras disciplinas, mas sem ênfase nos conteúdos próprios da arte. Não há, inclusive, adoção de livros devido à desvalorização da área, avaliação dos projetos desenvolvidos nas escolas, como por exemplo a aprendizagem dos conteúdos da arte, pouca visita cultural e pouco estudo da arte brasileira e regionais. Ainda, segundo ela, é preciso a formação de mais professores de arte e para isso também a melhoria no reconhecimento da profissão. Na Lei de Diretrizes e Bases, agora passa a ser obrigatória no ensino da arte a ênfase nas expressões regionais para os estudantes das Escolas de Educação Básica, ou seja, os do ensino Infantil, Fundamental e Médio, a fim de que haja o desenvolvimento cultural daqueles que estudam.

"Saber desenhar é um modo de possuir a realidade, de poder inclusive inventar-lhe sucedâneos." Ferreira Gullar